segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Histórias V: Avó? Eu?!!!

O amor é um sentimento capaz de ser descoberto nas situações mais inexplicáveis. Ele simplesmente surge, e arrebata. Foi assim que a manicure Luciara Pitana, de Guaíba, o encontrou.
Mas antes, por meio da surpresa e de uma negação que parecia infindável, ela soube, há cinco meses, que seria avó pela primeira vez. No lugar do amor, Luciara sentiu raiva e medo. Intolerância.
Divorciada, ela praticamente criou sozinha Felipe, o filho único e aspirante a pai, de 19 anos completados neste mês. Nas noites que sucederam a notícia, a manicure se pegava sempre pensando a mesma frase: “Como o meu menino poderá ser pai?”.
A idéia de que o namoro recém iniciado já “renderia o primeiro fruto” caiu como uma bomba sobre Luciara.
- O choque foi tão forte, que nos primeiros dias agi como se nada estivesse acontecendo _ lembra. Nem na frente do rapaz e da futura nora ela conseguia esconder a revolta. No fundo, não queria perder o único filho para outra mulher.
O tempo foi passando e Luciara negando o neto que viria em breve. Evitava o assunto.
- De nervosa, engordei mais do que a grávida. Minha nora é um amor de pessoa, mas eu não conseguia aceitar a situação _ revela.
Até o dia do parto, Luciara não comprou nenhum presente para o novo membro da família. E quando soube que seria uma netinha, fez pouco caso. “Não gosto de meninas”, apenas retrucou.
Porém, numa tarde ensolarada, enquanto lixava as unhas de uma cliente, tudo mudou. Uma ligação do filho, que passara a morar com a namorada, fez Luciara esconder uma ponta de lágrima nos olhos.
_ Mãe, ela chegou! _ falou Felipe, emocionado, pelo telefone.
Isabela nasceu no dia 2 de outubro, quatro dias antes do aniversário do pai, e 28 antes do aniversário da avó que lhe renegava.
Para não demonstrar nenhuma emoção, a manicure não foi ao hospital no primeiro dia. Mas algo já começava a mudar dentro do coração antes empedrado.
Na manhã seguinte, cancelou todas as clientes e pegou o primeiro ônibus rumo ao hospital. Numa loja, observou uma bicicleta rosa e, até, pensou em comprá-la. Era o primeiro sinal.
Meio acanhada, entrou no quarto onde estavam os jovens pais e o bebê. Ao pegar a pequena Isabela nos braços, toda a raiva e todo o medo desapareceram num instante.
Luciara e a netinha tornaram-se uma só pessoa.
_ O coraçãozinho dela bateu forte perto do meu. Foi uma emoção “inexplicável”. Senti o amor me invadindo por completo _ resume a manicure, agora conhecida carinhosamente por todos como a “avó babona”.

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