quarta-feira, 17 de junho de 2009

Violeiro solidário

Algumas histórias caem de maduro no colo do repórter e, muitas vezes, acabam passando sem que o profissional se dê conta de que aquele momento pode se tornar eterno. Uma destas histórias caiu na minha cabeça na sexta-feira passada, quando me determinei a acompanhar um baile num asilo de idosos carentes. A ideia era fazer uma matéria sobre a solidão sentida por quem vive distante da família e dos amigos.

Fiz a matéria (e ainda não foi publicada). Porém, no meio da pauta encontrei o seu Oswaldo. Rostinho miúdo, olhar sincero e sorriso discreto pela falta de dentes. Aos 91 anos, ele é o violeiro que anima os bailes do asilo. "Nossa! Que figura!", foi o que pensei.

Então, fiquei o observando e decidi marcar uma entrevista com ele para esta semana. O resultado desta conversa está abaixo e na matéria publicada no Diário Gaúcho de hoje. Algumas fotos são do sempre talentoso (e quase poético nesta pauta) Marcelo Oliveira.

VIOLEIRO SOLIDÁRIO
Não há idade para a música e o amor
ALINE CUSTÓDIO
Aos 91 anos, metalúrgico aposentado de Gravataí é exemplo de vitalidade. Ele é voluntário num lar de idosos da cidade, onde anima bailes.

Pelas cordas do violão que ganhou aos 14 anos, o metalúrgico aposentado Oswaldo Nunes Jardim, 91 anos, de Gravataí, ainda dedilha emoção. Com o instrumento presenteado pelo pai, o senhor que se autodenomina “não idoso” por ter saúde de ferro, dá aulas, participa de um coral e costuma animar os bailes de um asilo da cidade:

– Sinto prazer em tocar para os que querem ouvir, e os velhinhos gostam. Violão é um remédio para qualquer doença.

Viúvo há seis anos, Oswaldo tem o instrumento como único companheiro. Quando se sente só, bastam os primeiros acordes de Tico-Tico no Fubá ou do Brasileirinho para que a tristeza desapareça. Mesmo tendo aprendido desde cedo a tocar violão com o irmão, só tornou-se professor em 1956.

– Naquela época, quem tocava era vagabundo. Os amigos riam e diziam que eu só aprenderia a dedilhar aos 80 anos – comenta, entre risos.

Durante toda a vida, apesar de se considerar um romântico, Oswaldo só fez três serenatas, mas para ajudar os amigos. Nos anos 60, tocou em diversos carnavais. Na década seguinte, fez a carteira de músico e, até hoje, tem orgulho de carregar no bolso da camisa o documento da Ordem dos Músicos do Brasil.

E engana-se quem pensa que Oswaldo pretende aposentar-se do amigo violão, apesar da idade avançada de ambos.

– Quero chegar aos cem anos tocando. Para o amor e para a música não há idade – afirma.

aline.custodio@diariogaucho.com.br




4 comentários:

Graziela disse...

Adoro histórias assim, e bom, tem a ver com minha pesquisa e aí já fico ainda mais atenta.
Depois vou querer ver a outra matéria tb.
Parabéns pela sensibilidade.

Bjo

Aline C. disse...

Muito obrigada pela mensage, Graziela. Tenho outras no mesmo estilo pq gosto de escrever sobre pessoas. Apesar do pouco espaço que eu tenho no jornal, sempre dou um jeitinho.

Grande abraço,

vidacuriosa disse...

Grande e universal Aline Custódio
É um orgulho muito grande ser colega de alguém que segue o grande mandamento de Tolstoi, cantando a sua aldeia. Belas histórias em um grande jornal.
Beijos.

Aline C. disse...

Plínio, grande colega! Eu que tenho orgulho de tê-lo como meu colega. Uma pessoa dócil, simples e cheia de amor no coração.
Grande abraço!