sábado, 13 de junho de 2009

O costureiro do asfalto

O texto abaixo, de minha autoria, foi publicado nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora, ambos de Porto Alegre. Coisa simples, mas que eu amo fazer. Minha parceria desta vez foi o fotógrafo Marcelo Oliveira. Foi ele quem sugeriu a pauta quando passávamos na estrada e vimos a cena inusitada.
Foto: Marcelo Oliveira/Diário Gaúcho

Agulhas e linhas à beira da estrada
Costureiro conserta lonas de caminhão às margens da rodovia Sapucaia do Sul-Viamão
Aline Custódio aline.custodio@diariogaucho.com.br
Quem passa pela rodovia Sapucaia do Sul-Viamão (RS-118), próximo ao trevo de entrada de Gravataí, depara com uma cena inusitada. Às margens da estrada, um homem parece usar uma máquina de costura. Parece não, ele usa mesmo.

Há mais de uma década, Marcos Fraga, 38 anos, mais conhecido como Cabelo, é o “salvador de caminhoneiros e motoristas em geral”. A céu aberto, ele costura lonas, vinilonas e outros tipos de coberturas para caminhões e caminhonetes. A profissão está na família há três gerações, e Cabelo já se encarregou de gerar a quarta: o filho Taylor, 18 anos, é o ajudante dele e aprendiz de costureiro.
Apesar de tanto tempo cosendo, só nos últimos seis anos Cabelo passou a utilizar a máquina elétrica. Antes, tudo era feito manualmente. A maior lona que já costurou foi uma que pertencia a um vagão de trem.
– Tenho calos nos dedos desde criança, quando ajudava o meu pai na mesma lida – conta.

Ele até tentou trabalhar em outras funções. Chegou a ser açougueiro, mas acabou voltando para as linhas e as agulhas por reconhecer que era apaixonado pelo que fazia.
– Me criei na estrada e ajudo gente de todo o país. Esta é a minha profissão – fala.
Mesmo não revelando quanto recebe por serviço produzido, Cabelo diz que cobra, em média, R$ 1 por furo. E os clientes chegam de todas as partes do Brasil.
– Recebo caminhoneiro do Acre, da Bahia, de Pernambuco. E eles sempre voltam – garante.

Trabalhando na rua, o costureiro dos caminhoneiros enfrenta chuva e sol. No verão escaldante do asfalto, costuma fazer um puxadinho de restos de lona. Em dias chuvosos, se não usa este artifício, conta com a ajuda dos comerciantes da região. Mas a tarefa nunca deixa de ser exercida. Pelo contrário, Cabelo pode ser encontrado todos os dias na beira da estrada, das 8h às 20h. E sem fechar ao meiodia.
– O importante é trabalhar – conclui.

2 comentários:

Édnei Pedroso disse...

Uma bela matéria mesmo. Parabéns!;-)

Aline C. disse...

Valeu, primo! Vou postar outros perfis em breve!
Bju