Por dois dias, em 2006, tomei a coragem de exercer uma profissão pouco lembrada por quem anda feito barata tonta pelas ruas: fui gari, com muito orgulho. Tudo em nome do jornalismo, claro. A foto acima (by Andréa Graiz) fez parte da matéria.
Varri três áreas distintas de Porto Alegre e o que vivi, e senti, nunca mais sairá da minha memória. Reservei as melhores lembranças, apesar do choro de dor pelas bolhas estourando nas mãos e as dores nos braços _ e não é reclamação de dondoca, pois não sou.
Nada disso foi maior do que o coleguismo dos garis que trabalharam comigo. Por outro lado, inevitável esquecer a falta de educação de muito que passaram por mim e, até, chutaram a minha vassoura. Vi de tudo, de taxista do Bairro Moinhos de Vento que não respondeu ao meu bom dia e ainda me olhou com nojo, a uma moradora do Bairro Restinga, que não mediu esforços para alcançar-me um copo de água gelada (ela não tinha geladeira em casa).
No Centro da cidade, pensei que enlouqueceria. Calor, milhares falando ao mesmo tempo, gente jogando baganas de cigarro onde eu recém tinha varrido, outros cuspindo nos meus pés...insuportável! Não agüentei mais do que quatro horas na labuta. Precisei me segurar para não distribuir umas boas vassouradas em determinados pedestres. Imagine aqueles que dependem desta função para sobreviverem. São heróis! Invisíveis, infelizmente, para a maioria...
Um comentário:
Boa sorte.
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