Algumas histórias caem de maduro no colo do repórter e, muitas vezes, acabam passando sem que o profissional se dê conta de que aquele momento pode se tornar eterno. Uma destas histórias caiu na minha cabeça na sexta-feira passada, quando me determinei a acompanhar um baile num asilo de idosos carentes. A ideia era fazer uma matéria sobre a solidão sentida por quem vive distante da família e dos amigos.
Fiz a matéria (e ainda não foi publicada). Porém, no meio da pauta encontrei o seu Oswaldo. Rostinho miúdo, olhar sincero e sorriso discreto pela falta de dentes. Aos 91 anos, ele é o violeiro que anima os bailes do asilo. "Nossa! Que figura!", foi o que pensei.
Então, fiquei o observando e decidi marcar uma entrevista com ele para esta semana. O resultado desta conversa está abaixo e na matéria publicada no
Diário Gaúcho de hoje. Algumas fotos são do sempre talentoso (e quase poético nesta pauta) Marcelo Oliveira.
VIOLEIRO SOLIDÁRIO
Não há idade para a música e o amorALINE CUSTÓDIO
Aos 91 anos, metalúrgico aposentado de Gravataí é exemplo de vitalidade. Ele é voluntário num lar de idosos da cidade, onde anima bailes.
Pelas cordas do violão que ganhou aos 14 anos, o metalúrgico aposentado Oswaldo Nunes Jardim, 91 anos, de Gravataí, ainda dedilha emoção. Com o instrumento presenteado pelo pai, o senhor que se autodenomina “não idoso” por ter saúde de ferro, dá aulas, participa de um coral e costuma animar os bailes de um asilo da cidade:
– Sinto prazer em tocar para os que querem ouvir, e os velhinhos gostam. Violão é um remédio para qualquer doença.
Viúvo há seis anos, Oswaldo tem o instrumento como único companheiro. Quando se sente só, bastam os primeiros acordes de Tico-Tico no Fubá ou do Brasileirinho para que a tristeza desapareça. Mesmo tendo aprendido desde cedo a tocar violão com o irmão, só tornou-se professor em 1956.
– Naquela época, quem tocava era vagabundo. Os amigos riam e diziam que eu só aprenderia a dedilhar aos 80 anos – comenta, entre risos.
Durante toda a vida, apesar de se considerar um romântico, Oswaldo só fez três serenatas, mas para ajudar os amigos. Nos anos 60, tocou em diversos carnavais. Na década seguinte, fez a carteira de músico e, até hoje, tem orgulho de carregar no bolso da camisa o documento da Ordem dos Músicos do Brasil.
E engana-se quem pensa que Oswaldo pretende aposentar-se do amigo violão, apesar da idade avançada de ambos.
– Quero chegar aos cem anos tocando. Para o amor e para a música não há idade – afirma.
aline.custodio@diariogaucho.com.br